No Brasil, apesar de alguns avanços ao longo dos anos, a área da educação possui inúmeros desafios para garantir um serviço de qualidade, justo e que se adeque às necessidades sociais que estão em constante mudanças. Sendo a distorção escolar um dos significativos desafios a serem superados, tendo em vista que afeta milhares de jovens em sua jornada educacional.
A distorção escolar ou também chamada de distorção idade-série, ocorre quando os estudantes estão matriculados em séries escolares abaixo da faixa etária adequada para sua etapa de ensino. Essa realidade reflete, especialmente, a qualidade do nosso ensino, e as desigualdades sociais e educacionais presentes em nosso país, impactando diretamente o futuro desses jovens.
Nesse sentido, é importante ressaltar que a HAJA faz da educação infantil e jovem um de seus projetos mais valiosos tendo como objetivo: “combater a evasão escolar, descrever os problemas que impedem o avanço dos alunos em seus estudos, analisar as causas da distorção idade/ano nas escolas locais, com foco contínuo no planejamento de intervenção com ações que garantam a correção desse fluxo”(HAJA). Assim, acreditamos ser da nossa responsabilidade abordar e combater a questão da distorção escolar, pois impacto todo o fluxo desse aluno.
Em 2019, por exemplo, 6 milhões de alunos estavam com distorção de idade-série, desses 29,3% se encontram no ensino médio e 2,6%, nos anos finais do ensino fundamental e boa parte dos alunos residem nas regiões Norte (19%) e Nordeste (17,2%) (Correio Braziliense).
Percebe-se como em outros cenários, que alunos indígenas são os que mais sofrem com a distorção idade-série (40,2%), seguidos por pretos (29,6%) e pardos (23,9%). Sendo que a distorção é convivida por 46,8% dos estudantes com deficiência.
Segundo estudo da UNICEF, a distorção escolar faz parte da tríade que forma o ciclo do fracasso escolar. Alunos reprovados ou que abandonaram a escola tendem a sofrer a distorção idade-série, quando a faixa etária do estudante não é adequada ao ano em que ele estuda.
“Reprovação, abandono escolar e distorção idade-série são partes de um mesmo problema: o fracasso escolar. Ele começa com o estudante sendo reprovado uma vez. Seguem-se outras reprovações, abandono, tentativa de retorno às aulas, até que ele entra em uma situação de “distorção idade-série”, com dois ou mais anos de atraso. Sem oportunidades de aprender, o aluno vai ficando para trás, até ser forçado a deixar definitivamente a escola” (UNICEF).
Ítalo Dutra, chefe de Educação do UNICEF no Brasil explica que, no Brasil, há uma tendência a naturalização do fracasso escolar para um perfil específico de estudante, onde a sociedade aceita que esse aluno passe pela escola sem aprender, sendo reprovado várias vezes até desistir. “Essa situação já existia em 2019 e se agravou com a pandemia. Essa cultura do fracasso escolar acaba por excluir sempre os mesmos estudantes, que já sofrem outras violações de direitos dentro e fora da escola”.
A situação escolar brasileira se agravou com a pandemia da Covid-19: em outubro de 2020, 3,8% das crianças e dos adolescentes de 6 a 17 anos (1,38 milhão) já não frequentavam a escola no Brasil, nem remota e nem presencialmente, um acréscimo de 1,8% na média nacional de 2019, segundo a Pnad Contínua.
Além disso, 11,2% dos estudantes que relataram estar frequentando a escola não haviam recebido nenhuma atividade escolar, e não estavam em férias (4,12 milhões). Portanto, estima-se que mais de 5,5 milhões de crianças e adolescentes tiveram seu direito à educação negado em 2020 (UNICEF).
Em 2021, um estudo elaborado pelo IMD World Competitiveness Center comparou a prosperidade e a competitividade de 64 nações, em uma pesquisa que analisou como está o ambiente econômico e social do país para gerar inovação e se destacar no cenário global. Tendo como avaliação da educação entre os países, o pior cenário, o Brasil:
“No eixo que avalia a educação, o Brasil teve a pior avaliação entre as nações analisadas, alcançando a 64ª posição. Entre outros fatores, o resultado nesse quesito se explica pelo mau desempenho do país no que diz respeito aos gastos público totais em educação. Segundo a pesquisa, quando avaliado em termos per capita, o mundo investe em média US$ 6.873 (cerca de R$ 34,5 mil) por estudante anualmente, enquanto o Brasil aplica apenas US$ 2.110 (R$ 10,6 aproximadamente)” (CNN Brasil).
Esse cenário indica a falta de políticas públicas de educação que proporcionem a formação de habilidades e capacidades relevantes para o mercado de trabalho. Assim, "o país é o 63º colocado em relação à relevância da educação primária e secundária para as exigências do sistema produtivo" (CNN Brasil).
Portanto, nota-se que a falta de investimento na educação tem consequências significativas para os jovens e para a sociedade como um todo, entre seus impactos estão: a limitação de oportunidades de acesso ao ensino superior e ao mercado de trabalho, o desenvolvimento defasado comprometendo o desenvolvimento acadêmico, emocional e social dos jovens, dificultando a aquisição de habilidades essenciais para seu pleno crescimento. E a perpetuação das desigualdades educacionais já existentes.
A superação do fracasso escolar é urgente e requer uma abordagem multifacetada com a colaboração de diversos atores. A partir das pesquisas e estudos é possível vislumbrar algumas estratégias relevantes:
Conhecimento dos indicadores e intervenção precoce: É fundamental identificar e intervir nos casos de distorção escolar o mais cedo possível. Isso envolve investimento em pesquisas e criação de programas de detecção precoce.
Reforço escolar e apoio psicossocial e pedagógico: Oferecer programas de reforço escolar, tutoria e apoio não só pedagógico, mas também social e psicológico para entender e intervir de forma integrada.
Avanços curricular: Adotar abordagens curriculares mais modernos e flexíveis, porém dando condições para que todas as escolas tenham possibilidade aplicar esse currículo. Pensando em modelos que levem em consideração as necessidades individuais dos estudantes.
Incentivo à permanência escolar: Promover ações que incentivem a permanência dos jovens na escola como programas de bolsas de estudo, alimentação escolar adequada, transporte acessível e políticas de combate à evasão escolar.
Fortalecimento da relação escola família: Envolver as famílias no processo educativo, estabelecendo uma parceria entre escola e família, entendendo, ouvindo e acolhendo as necessidades de cada região e comunidade brasileira.
Valorização dos professores: Investir na formação e valorização dos professores é essencial para garantir uma educação de qualidade. Professores bem remunerados, capacitados e motivados desempenham um papel fundamental no engajamento dos alunos e na prevenção da distorção escolar e dos demais desafios.
Políticas de inclusão e equidade: Promover políticas educacionais que visem reduzir as desigualdades sociais e econômicas é fundamental. Isso inclui ações afirmativas, programas de inclusão de grupos vulneráveis, como pessoas com deficiência, e a garantia de acesso igualitário a recursos educacionais. Talvez esse seja o ponto de partida, pensando que é o fator histórico que mais se repete dentro da educação.
Monitoramento e avaliação contínua: É importante realizar um monitoramento constante dos indicadores de distorção escolar para avaliar a eficácia das estratégias adotadas. Isso permite fazer ajustes e melhorar as ações voltadas para a redução da distorção escolar.
Percebe-se que são estratégias que demandaram um esforço do estado, da sociedade, das famílias e até mesmo dos alunos. Sendo uma das parcerias possíveis a das associações como a HAJA.
O projeto educacional da HAJA é um projeto muito bem estruturado que já atua com essas estratégias de forma prática, vendo resultados de muita esperança. Obviamente, que não busca substituir a educação formal, mas apoiar os alunos desde as necessidades mais básicas como alimentação até as necessidades individualizadas de reconhecer possíveis atrasos cognitivos ou dificuldades pontuais.
Tudo isso é feito para que eles não precisem sair da escola por reprovação ou distorção escolar. E muito menos por abandono, por isso não se pode esquecer da relação com a família, pois apenas assim é possível entender as demandas e convencer os familiares a deixarem crianças e jovens na escola e não levá-los para algum tipo de trabalho.
Após passar pelo projeto educacional, o jovem ainda tem acesso a cursos e formações direcionados para habilidades importantes para o mercado de trabalho com o intuito de que ele tenha um futuro melhor e com mais oportunidades. Mas todo esse processo demanda tempo e recursos, e é importante saber que com o apoio mensal de em torno de 250 reais, conseguimos fazer todos esse trabalho para uma criança ou adolescente. Um valor significativo para alguns, mas extremamente transformador para quem está diante de um cenário muito pouco favorável dentro do sistema educacional.
Por isso, caso possa ajudar ou se unir com outros para oferecer ajuda não deixe para depois: SEJA UM APOIADOR. Toda parceria é imprescindível para que nosso projeto ofereça mais esperança a esses alunos. A educação é o melhor caminho para combater a desigualdade e a extrema pobreza.
Materiais consultados:
https://www.unicef.org/brazil/relatorios/enfrentamento-da-cultura-do-fracasso-escolar
https://www.unicef.org/brazil/media/12566/file/enfrentamento-da-cultura-do-fracasso-escolar.pdf
https://www.correiobraziliense.com.br/euestudante/educacao-basica/2021/01/4903077-unicef-8-milhoes-de-estudantes-brasileiros-tem-fracasso-escolar.html https://edicaodobrasil.com.br/2022/10/14/taxa-de-abandono-escolar-no-ensino-medio-mais-que-dobra-na-rede-publica/
https://undime.org.br/noticia/22-05-2023-10-39-divulgado-resultado-da-2-etapa-do-censo-escolar-2022
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